Por que falar de fé quando falamos de saúde?
A fé tem peso real na vida do brasileiro. Uma pesquisa da Global Religion feita pela Ipsos em 2023 mostrou que 89% dos brasileiros afirmam acreditar em Deus, colocando o país entre os mais religiosos do mundo, ao lado da África do Sul. Isso não é só um dado sociológico: é um alerta para quem atende pessoas.
Se a maior parte dos pacientes chega ao consultório com uma visão de mundo espiritualizada, então o médico que ignora essa dimensão pode perder vínculo. Já o médico que respeita, acolhe e comunica que entende a pessoa como um todo (corpo, mente e, quando houver, espiritualidade) tende a gerar mais confiança e mais adesão. E isso vale tanto para o atendimento quanto para o marketing médico.
Fé gera confiança (e confiança gera adesão)
Em um país onde quase todo mundo acredita em Deus, a confiança é um pilar da relação médico-paciente.
Quando o paciente percebe que o médico:
- não debocha da fé dele,
- não interrompe quando ele menciona “eu entreguei a Deus”,
- e, principalmente, não tenta impor sua própria crença,
ele se sente respeitado. Paciente respeitado fala mais, conta mais sintomas, conta o que viu no TikTok, conta o chá que tomou — e isso melhora o diagnóstico.
📌 Ponto importante: não é sobre o médico falar de religião; é sobre o médico não quebrar o vínculo emocional por causa dela.
E onde entra o marketing médico nisso?
Marketing médico humanizado é, no fundo, comunicação que demonstra cuidado. Se o teu público é majoritariamente religioso (e no Brasil ele é), mostrar que você respeita crenças e valores aproxima.
Formas éticas de usar isso na comunicação
- Conteúdo humanizado nas redes: casos de superação, bastidores de consulta difícil, posts sobre “escuta ativa” e “pacientes que chegam com medo”.
- Depoimentos que falam de acolhimento: não é depoimento de cura milagrosa (CFM não deixa), é depoimento de “fui bem atendida”, “ele ouviu minha história”, “ela respeitou minha fé”.
- Linguagem acolhedora no site e no Instagram: frases como “atendimento respeitoso às suas crenças e escolhas” transmitem muito sem citar religião.
- Lives, encontros e palestras sobre saúde + espiritualidade: ótimo para médicos que atendem oncologia, dor crônica, bariátrica e saúde da mulher — especialidades em que o paciente fala muito de propósito, medo e fé.
Tudo isso não é proselitismo. É comunicação alinhada ao público.
Humanização: não é tendência, é necessidade
Quando o paciente percebe que o médico entende sua visão de mundo, ele:
- conta mais
- pergunta mais
- e volta mais.
E paciente que volta diminui o custo de aquisição (isso é marketing!). Muita clínica quer tráfego pago, mas perde paciente porque a secretária corta o paciente quando ele fala de fé. Aí parece problema de captação, mas é problema de acolhimento.
Fé x ciência: precisa escolher?
Não. O caminho é equilíbrio.
- A ciência orienta diagnóstico e tratamento.
- A fé sustenta o paciente no processo.
O marketing médico deve mostrar justamente isso: “sou técnico, estudo, sigo evidência, mas atendo pessoas reais, com histórias e crenças”.
📌 o que não pode:
- prometer cura baseada em fé;
- usar religião para atrair pacientes vulneráveis;
- misturar crença pessoal com indicação clínica.
📌 o que pode (e deve):
- comunicar respeito;
- mostrar escuta;
- treinar a equipe para não desvalidar o paciente.
O que o médico pode começar a fazer hoje
1-Adicionar uma frase de acolhimento no site e no Instagram:
“Atendimento humanizado, respeitando crenças e valores do paciente.”
2- Treinar a secretária para não cortar o paciente quando ele diz “graças a Deus” ou “tô orando por isso”.
3- Usar depoimentos sobre respeito (não sobre resultado clínico).
4- Fazer um post por mês sobre saúde integral (corpo + mente + espiritualidade).
5- Usar isso em campanhas locais: em cidades menores, isso aproxima muito.
Cláudia Flehr
CF Marketing Médico
Humanização não é discurso: é respeito ao que o paciente acredita.


