A linha tênue entre visibilidade e exposição
Na era digital, a relação entre médicos e pacientes está em constante transformação.
Se, por um lado, a tecnologia aproxima e informa, por outro, também exige responsabilidade ética inédita.
As redes sociais ampliaram o alcance da voz médica — mas também o risco da exposição indevida.
E, infelizmente, alguns casos recentes mostram o quanto essa fronteira tem sido ultrapassada.
O caso de Vitória Chaves: quando falta empatia, sobra dano
Em fevereiro de 2025, o caso de Vitória Chaves da Silva, uma jovem de 26 anos que passou por três transplantes de coração e um de rim, trouxe à tona o impacto do comportamento digital na medicina.
Duas estudantes de medicina, Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano, publicaram no TikTok um vídeo zombando da paciente com a frase:
“Essa menina tá achando que tem sete vidas?”
Dias depois, Vitória faleceu devido a um choque séptico e insuficiência renal crônica.
A família denunciou o caso ao Ministério Público, e a repercussão gerou indignação nacional.
Mais do que um erro de julgamento, o episódio revelou a ausência de empatia e consciência ética — princípios fundamentais da medicina.
A exposição indevida em contextos clínicos
Em outro caso alarmante, uma estudante de medicina do primeiro período da UniEvangélica, em Anápolis (GO), filmou um exame ginecológico dentro de uma UPA e publicou as imagens em suas redes sociais.
A paciente, com as partes íntimas expostas, teve sua privacidade violada de forma grave.
Após a repercussão, a estudante apagou as postagens e a universidade tomou medidas disciplinares.
O episódio reforça um ponto essencial: a privacidade do paciente não é negociável.
Essas atitudes, além de antiéticas, ferem o Código de Ética Médica e o respeito humano que deve orientar toda prática de cuidado.
A busca por viralização: quando o “engajamento” vira risco
Casos como esses evidenciam uma tendência preocupante: a busca por visibilidade a qualquer custo.
A lógica da viralização tem seduzido parte dos profissionais da saúde, fazendo com que likes e views pareçam mais importantes do que a integridade e o respeito ao paciente.
Mas o preço dessa exposição é alto.
A perda de credibilidade, a repercussão negativa e as consequências legais podem comprometer carreiras inteiras.
O desafio é encontrar o equilíbrio: usar a tecnologia como ferramenta de educação e empatia — nunca como palco para vaidade.
O papel das instituições de ensino e dos mentores
A responsabilidade não é apenas individual.
As universidades e os programas de residência precisam reforçar a formação ética e digital desde o início da graduação.
Disciplinas sobre bioética, empatia e comunicação responsável nas redes devem ser parte central da formação médica.
Os mentores, por sua vez, têm papel decisivo em orientar o comportamento dos futuros profissionais, mostrando que autoridade se constrói com respeito — não com exposição.
Conclusão: ética é o verdadeiro marketing
A tecnologia é uma aliada poderosa.
Mas, sem consciência ética, se transforma em uma armadilha.
O médico do futuro — e do presente — precisa entender que cada post é também um ato médico, e que cada palavra pública reflete sua postura profissional.
A formação médica não termina na técnica.
Ela se completa na capacidade de agir com humanidade, empatia e responsabilidade em todas as circunstâncias.
Cláudia Flehr
Carreira & Marketing Médico
Os likes passam. A reputação fica.


